Arte da Cerâmica e seus múltiplos encantos
A ceramista Adriana Lopes já viajou o mundo com seu trabalho e hoje mantém seu ateliê na cidade de Juiz de Fora, onde atende clientes de todo o Brasil, principalmente no segmento de bares e restaurantes. Este mês eu fiz uma entrevista especial com ela para saber um pouco mais sobre a arte da cerâmica e seus múltiplos encantos, e como a cerâmica pode ser, não só um artefato utilitário, mas uma obra de arte em sua casa. Vamos conferir?
Art Wall: Muito prazer em te receber aqui no blog da Art Wall. Adriana, você é formada em Artes pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Conta para a gente como e quando a cerâmica entrou na sua vida e porque você a escolheu como propósito de vida?
Adriana Lopes: A cerâmica entrou na minha vida cursando Artes na UFJF, onde fui monitora por dois anos e quando formei continuei trabalhando em casa. Em 1997 abriu uma vaga para professor substituto de Cerâmica. Não pensei duas vezes. Fiz a prova, passei, e daí nunca mais parei. Me entreguei neste ofício e amo o que faço até hoje.
AW: É difícil começar aulas de cerâmica ou qualquer pessoa pode experimentar este processo?
Adriana Lopes: Claro que não! Todos devem passar por essa experiência, é só começar.
AW: O processo artístico de se fazer cerâmica pode nos levar a um transe. Fale um pouco desta entrega e de como é o seu ritual de criação.
Adriana Lopes: A cerâmica é entrega, é paciência e paixão. E quando amamos o que fazemos, nos colocamos nesse transe. O processo criativo sempre parte de uma ideia. Assim, é só definir como executá-la e escolher a técnica mais apropriada para essa execução.
AW: Você trabalhou muito tempo com a técnica de raku. Pode contar o porquê dessa escolha e como ela acontece?
Adriana Lopes: O primeiro contato com raku foi em um festival de inverno em Ouro Preto, ainda quando eu estava na faculdade. E de lá me apaixonei. É uma técnica de queima japonesa cujo processo é igual da cerâmica, só que, na queima, quando ela chega a mil graus, você tira a peça incandescente de dentro do forno e abafa na serragem. Com este choque térmico, mais a temperatura ambiente, você forma um esmalte como se fosse uma camada de vidro, ele craquela, quando você coloca na serragem. É como se fosse um defumado. Então esses craques ficam todos com aqueles veios negros, formando peças únicas e maravilhosas.
AW: Hoje você também trabalha com a cerâmica dentro do conceito de design, sobretudo no ramo de utilitários para restaurantes. Como é desenvolver peças para este segmento?
Adriana Lopes: Este é um mercado que requer cuidados especiais tanto no tipo de esmalte que usamos, quanto no design para melhor atender ao cliente final. O utilitário para gastronomia não pode ter esmalte com chumbo. Para entrar neste universo, eu mergulhei em um estudo e desenvolvi esmaltes específicos. Outra parte importante é compreender a proposta dos restaurantes. É preciso realizar uma conversa com o dono do restaurante e com o chef para saber que tipos de pratos serão servidos, qual a cor se vai usar. Se são alimentos mais orgânicos, mais tradicional etc. Há um diálogo para se compreender melhor e depois definir a ergonomia, cores, texturas e tamanhos das peças.
AW: Além dos utilitários, você também produz peças artísticas. Como é o desafio de se colocar neste mercado da arte, mesmo com tanto tempo de experiência?
Adriana Lopes: O artístico é a minha paixão, né? Você sabe. Ele é sempre um desafio. Tem que estar sempre fazendo alguma exposição ou divulgando junto a arquitetos, decoradores e público em geral. O público final ainda procura pouco pela arte. É preciso estar sempre ofertando para que as pessoas se lembrem de como a arte é importante em nossas vidas e invistam nela.
AW: Você e o Leo (Leonardo Ferreira de Oliveira) já moraram em diversas cidades dentro e fora do Brasil. Em todas elas, a cerâmica esteve presente? Se sim, como foi o seu encontro com os diferentes usos da cerâmica nos lugares em que você passou?
Adriana Lopes: Eu me casei recém-formada. Aí fomos morar na Suíça e lá eu fiz aulas de torno e cerâmica manual. Voltei para Juiz de Fora e alguns anos depois montei meu ateliê, onde eu sonho essa jornada desde 1998. Tive contato com a cerâmica raku e trabalhei com essa técnica de queima por muitos anos. As peças eram decorativas, adornos e artística. Aí nós nos mudamos para Natal e levei todo o ateliê. Morei em Natal por doze anos e continuei com essa técnica. Também fiz feiras em São Paulo por muito tempo.
Depois nós resolvemos voltar para terrinha para Juiz de Fora. Então eu mudei de técnica, parti para as peças utilitárias e com isso eu tive uma nova pesquisa tipo de argila e os esmaltes. Eu comecei a fazer meus próprios esmaltes, os esmaltes artesanais e outro tipo de queima que é a queima de alta. Então, com isso tudo foi um novo desafio que foi uma maravilha. Adorei e continuo até hoje.
O Leo está comigo no ateliê. Ele cuida de toda a parte administrativa. Minhas filhas também participam sempre que necessário. Posso dizer que a cerâmica contaminou a todos da família.
AW: Atualmente você divide seu tempo entre o ateliê no bairro Granbery, em Juiz de Fora e na comunidade dos São José dos Lopes, próximo a Ibitipoca. Conta um pouco sobre essas suas escolhas e o que cada um desses espaços oferece.
Adriana Lopes: Adoro desafios. Há dois anos fui convidada para trabalhar, na comunidade São José dos Lopes. Nosso desafio era para criar um artesanato local com as mulheres do vilarejo que resultou numa exposição dos "Personagens Lopes". A ideia nasceu com as próprias participantes que desenvolveram peças inspiradas nos moradores locais, vizinhos, parentes e amigos. Um trabalho extremamente gratificante vendo a evolução do aumento de renda dessas mulheres e da autoestima também, que é o mais importante.
AW: O tema me parece bastante interessante para valorização dos moradores.
Adriana Lopes: Sim! é um trabalho de memória dos moradores locais e de reconhecimento das suas histórias. As peças ainda podem ser visitadas na Casa do Sol.
AW: Vamos deixar o link ao final para quem quiser conhecer mais sobre este projeto. Adriana, eu também fui tocada pela cerâmica e estou fazendo aulas no seu ateliê. Arte da fotografia e arte da cerâmica. É possível um casamento entre essas duas técnicas?
Adriana Lopes: Sim. A cerâmica é bem versátil. Cabe todos os materiais, não seria diferente com a fotografia. É só usar a criatividade e ousar. Isso é um convite?
AW: Com toda certeza! Podemos pensar algo sim.
Adriana Lopes: Então está topado o desafio! Nos aguardem!
Para conhecer mais sobre o trabalho da ceramista Adriana Lopes. @atelieradrianalopes Para conhecer o projeto Casa do Sol acesse @casadosol_lopes
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